Todos nós queremos mais casinhas, daquelas que a Rita gosta. Casinhas para entregar cheques aos agricultores, aos pescadores, às bordadeiras e às cuidadoras. Queremos dar casas ao povo. Casas do povo, casas que realmente conhecem os problemas do povo. Queremos empréstimos, queremos gastar rios de dinheiro em regatas de luxo, queremos dar emprego ao João, apoiar aquela instituição, trabalho para a Maria, tacho para a Sofia. Queremos mais, muito mais. Prometemos mundos mesmo que não tenhamos fundos. Queremos andar numa Assembleia, a trocar mensagens, navegar no face, a rir, a brincar. Ninguém nos bate nas bocas, nos “à partes”, fazer da oratória um dom, mesmo que de lá nada saia além de um som.
QUEREMOS! QUEREMOS! QUEREMOS!
Mas o futuro está hipotecado há décadas, pouco resta além da tal oratória. Inventam, caluniam, põem em questão a dignidade de cada um de nós. Já cospem no prato onde comeram anos e anos a fio. Sentem-se ofendidos porque são perseguidos. Porque deixaram de abanar a cabeça, começaram a pensar. Afinal ainda há quem tenha um cérebro. Tardio, é verdade, mas despertaram, acordaram. O povo acordou! Não quer pontinhas mais compridas, não quer túneis. Já chega de buracos! Os financeiros, os dos ricos.
Chega de asfalto, de betão! Ninguém mais quer ouvir falar de fóruns para entregar ao desbarato a este ou àquele. As marinas estão vazias, até de água! Um mundo de calhaus, rolados, sem utilidade. Chega de algas! Algas miraculosas, que seriam a revolução energética, e que afinal, não passam de cosmética.
Chega de falsas casinhas. Casinhas que afinal são inúteis. O melhor é mesmo olhar para os agricultores, para os pescadores e bordadeiras, olhar para as cuidadoras e respeitá-las. Não querem esmolas e muito menos andar de mão estendida. Rita olha por essas pessoas. Pensa nelas como pessoas. Dignas, capazes, profissionais. Não lhes deem esmolas.
Não queremos gastar mais. Mais do que conseguimos arrecadar. Mais do que são as nossas posses. Não precisamos de luxos, muito menos em forma de regatas. Queremos coisas simples. Coisas que nos façam felizes. Um campinho onde jogar à bola com os amigos, umas mesas para jogar às cartas.
Queremos oportunidades. Oportunidades iguais para todos. Chega de tachos, não queremos mundos se não houver fundos. Queremos realidade. Queremos dignidade, meritocracia. Queremos gente séria, que trabalhe à séria. Que nos represente num Parlamento, onde o respeito e o bom senso estejam presentes.
Queremos mais e melhor. Chega de promessas vãs, de populismos. Queremos gente responsável, que assuma os seus feitos, que saiba ser responsável. Que respeite e se dê ao respeito.
Chega de medíocres! Chega de gente que olha para as linhas como a salvação, as linhas da mão, traçadas por um futuro incerto, que ainda está entregue a quem pouco ou nada sabe fazer. Olhemos pelas pessoas, por quem realmente interessa. Cada um de nós sabe o que quer, para onde ir. Abramos os olhos e lá chegaremos.
Por Duarte Caldeira, Presidente da Junta de Freguesia de São Martinho
publicado no JM Madeira, no dia 23 de julho.