Sérgio Gonçalves acusou, hoje, o Governo Regional de ser o responsável pelo facto de as serras da Madeira estarem cheias de mato, lamentando que Miguel Albuquerque atire as culpas para cima dos proprietários dos terrenos, quando a gestão destes espaços é pública.
O presidente do PS Madeira, que hoje participou na festa das Tosquias, no Pico do Prado, nas serras de Santo António, respondeu ao chefe do Executivo madeirense, que havia afirmado que as serras estão com mato porque grande parte dos terrenos tem proprietários privados e não são tratados por razões económicas.
Face a estas declarações, Sérgio Gonçalves fez questão de esclarecer que estes terrenos são privados, mas têm uma gestão pública, devido ao modelo imposto pelo Executivo, que impede que os proprietários usem e rentabilizem esses mesmos bens. “Por isso é que a limpeza dos terrenos não é economicamente viável”, explicou o líder socialista, defendendo a adoção de um modelo que integre a proteção da natureza com as atividades humanas tradicionais, desta forma gerando oportunidades, emprego, produtos de qualidade e mais segurança no território, pagando a quem mantém o espaço limpo de carga combustível.
PS cumpriu a palavra dada aos criadores de gado, ao contrário daqueles que “se venderam por 30 dinheiros”
Por outro lado, o responsável lembrou que, tal como o PS havia prometido, apresentou na Assembleia Legislativa da Madeira, em julho de 2021, um projeto que previa um novo regime silvopastoril para a Região. Tratava-se, conforme explicou, de uma nova estratégia para o pastoreio na Madeira que previa o envolvimento ativo das associações de criadores de gado, de pastores, garantindo-lhes formação, e da população rural, sugerindo um rendimento para quem mantivesse o território limpo, ocupado, produtivo e mais seguro. A proposta socialista previa igualmente, para áreas consideradas prioritárias, um pagamento por área limpa a quem mantivesse os seus animais a pastar de acordo com as novas regras.
Contudo, o projeto foi chumbado no Parlamento, porque “outros partidos, que durante anos marcaram presença nas tosquias dizendo que defenderiam o pastoreio contra um regime de proibição imposto arrogantemente pelo Governo Regional, traíram os pastores na hora de votar a favor”.
Sérgio Gonçalves referiu-se concretamente ao CDS – que agora integra o Governo –, que poderia ter feito a diferença na aprovação do pastoreio que dizia defender, mas “voltou as costas aos criadores de gado”. “Vendeu-se por 30 dinheiros e alinhou com o PSD para dizer que o pastoreio já existe e até é apoiado pelo Governo”, acusou o líder dos socialistas madeirenses, denunciando a mentira do Executivo.
“O pastoreio que defendemos, que poderia criar oportunidades e rendimento às pessoas e trazer benefícios económicos, sociais e ambientais à nossa Região, não existe na Madeira. O que existe são umas licenças passadas para manter os animais dentro de vedações, é a regularização de licenças antigas – que o Governo bem gostava de tirar mas não tem coragem – e é um tratamento diferenciado, por parte do Executivo, para com determinadas associações, para fingir que o pastoreio existe, criando situações de desigualdade. Enquanto umas são apoiadas, mesmo que não cumpram os requisitos legais, outras são perseguidas e os seus animais abatidos com o pretexto de não cumprirem com a lei”, disse Sérgio Gonçalves.
O responsável frisou que, ao contrário de outros partidos que depois de terem o voto dos criadores de gado viraram-lhes as costas e já nem vêm às tosquias, o PS não defende o pastoreio para ganhar votos. “Nós defendemos o pastoreio porque acreditamos que é mais um instrumento de ordenamento do território e é uma forma ecológica de manter as serras mais seguras e mais resistentes aos incêndios”, declarou.
Conforme explicou Sérgio Gonçalves, o pastoreio, desde que devidamente orientado, pode gerar desenvolvimento económico, ajudar no combate à pobreza nas zonas rurais, gerar oportunidades de emprego e rendimento e, simultaneamente, prestar um serviço à Região para manutenção e segurança do território e reforçar a soberania alimentar, diminuindo a necessidade de importação de determinados produtos animais para a alimentação e que agora são subsidiados para virem de fora.
O presidente do PS fez notar também que o pastoreio é uma solução a ter em conta na prevenção de incêndios, através do controlo de plantas invasoras e da criação de zonas de descontinuidade florestal que travam a progressão dos fogos com custos de manutenção reduzidos.
Mostrou ainda a sua preocupação em relação ao perigo visível, com as serras completamente dominadas de giesta e carqueja, reflorestações fracassadas onde sobram apenas árvores mortas, redes de plástico, ferros e “milhões gastos que poderiam ser utilizados para investir em infraestruturas para os animais e pastores em circulação, controlando as infestantes de forma muito mais eficiente e económica”.
Defendendo esta atividade tradicional, que, frisou, vai muito para além das tosquias, Sérgio Gonçalves garantiu que o PS está do lado dos criadores de gado, evidenciando os benefícios do pastoreio orientado.