No início do evento, o candidato do PS-M à presidência do Governo Regional destacou a abertura que o partido está a fazer à sociedade civil, salientando que «temos de envolver as pessoas nas soluções que têm de ser dadas para os problemas da Região». Tal como afirmou Paulo Cafôfo, «o PS não tem as soluções todas, mas quer liderar um processo de envolver e de congregar a sociedade civil para juntos, todos, podermos governar melhor a Região, que é o que se espera depois de setembro deste ano».
No caso da temática em apreço no dia de hoje, o candidato enfatizou a partilha de perspetivas e de abordagens com os diferentes convidados, de modo a «podermos aferir que riscos e que respostas» para esta situação. «A juventude e a infância sempre teve riscos e, portanto, não é algo de novo. Mas a verdade é que o mundo em que vivemos é um mundo em transformação. Nós temos mudanças sociais, laborais, familiares, tecnológicas. As crianças hoje em dia vivem num mundo complexo em que a família, a escola e as estruturas de saúde têm de dar respostas àquilo que são os desafios e os riscos que estas crianças e estes jovens enfrentam», afirmou Paulo Cafôfo, acrescentando que ele próprio, enquanto professor, enfrentou muitos desafios destes nas escolas.
«Ninguém imagina os problemas que algumas crianças enfrentam no seio das suas famílias. Aquilo que queremos é que o seu processo de desenvolvimento seja um processo saudável. E, para ser saudável, nós temos de encontrar as melhores respostas e é por isso que aqui vamos, com especialistas nestas áreas, ver que respostas diferentes é que podem ser dadas e que soluções é que poderemos ter para que as nossas crianças consigam crescer de uma forma saudável», frisou.
Momentos antes do debate, em declarações à comunicação social, Paula Duarte, coordenadora do Instituto de Apoio à Criança em Coimbra, que foi uma das oradoras convidadas, afirmou que esta é uma problemática que nos tem de preocupar a todos, não só ao Estado, mas também a nós enquanto sociedade, porque é um problema e uma responsabilidade de todos. «Acho que todos nós temos de unir esforços e, em conjunto, combater o flagelo das crianças que são vítimas de maus tratos», salientou esta responsável, considerando que, «apesar de muitos avanços que já ocorreram, mesmo em termos legislativos e também no âmbito da prevenção e da consciencialização da comunidade sobre estas questões, ainda há muito caminho a fazer». «É necessário juntarmos esforços, unirmo-nos e falarmos todos a mesma linguagem, no sentido de acabar com a violência sobre as crianças e sobre os jovens», vincou.
Não podendo afirmar se aumentaram ou diminuíram os casos de maus tratos, Paula Duarte referiu, contudo, que os mesmos têm sido mais denunciados. «A comunidade está mais atenta, mais desperta. A própria legislação também assim o permite, porque passou a ser crime público e, a partir do momento em que passou a ser crime público, temos a obrigatoriedade enquanto comunidade de denunciar as situações».
Outro orador convidado foi João Pedro Gaspar, mentor e coordenador da Plataforma de Apoio a Jovens (Ex)acolhidos e professor de Psicologia da Educação na Universidade de Coimbra, o qual considerou que «ser-se um adolescente considerado em risco é uma situação que nos deve preocupar a todos, não só pelas consequências imediatas, como pelas consequências ao longo da vida», porque «o que se passa na infância não fica na infância».
De acordo com este especialista, hoje assistimos a uma sociedade cada vez com mais pressa, cada vez a viver mais no imediatismo, e isso reflete-se no nosso dia-a-dia. João Pedro Gaspar deu também conta que atualmente há casos transversais às classes sociais, exemplificando que hoje em dia existem em acolhimento netos de deputados, filhos de professores e filhos de psicólogos. «Temos muitos casos de adolescentes que são fruto de famílias que se vão desestruturando e depois isso reflete-se no dia-a-dia deles, nas escolas e nas ruas», disse.
Por seu turno, Sofia Canha, coordenadora da área do Desenvolvimento Social dos Estados Gerais do PS-M, apontou um conjunto de perguntas inquietantes e que justificaram a realização deste fórum: «Que riscos se colocam às crianças e jovens na atualidade? Serão os mesmos que há 30 anos? Há caraterísticas familiares que potenciam os riscos? Como identificar os riscos? São de necessidades básicas e físicas ou emocionais e psicológicas? Os riscos são individuais ou coletivos? É o indivíduo que desenvolve comportamentos de risco com consequências na família e na sociedade ou é a sociedade e a família que promovem o risco?».
Sofia Canha considerou que as respostas devem ser profundas e devem intervir mais na área de prevenção dos riscos. «Não se entende como ainda na Madeira se verifica um número tão grande de crianças a necessitar de proteção, sobretudo de origens sociais desfavorecidas, quando há décadas se alocam tantos meios de atuação. Há, de facto, que repensar os modelos de intervenção, em conjunto, e mobilizar esforços para uma ação mais eficiente e abrangente, investindo nos recursos humanos e na criação de equipas locais, atribuindo-lhes mais ferramentas e espaço de ação. Urge repensar qual o papel das escolas e das estruturas concelhias de cuidados de saúde primários na promoção da inclusão plena das crianças e jovens na sociedade, garantindo, a ambas, as ferramentas necessárias para essa missão», defendeu.
A iniciativa contou igualmente com a participação e os contributos de Patrícia Carvalho, presidente da CPCJ do Funchal, Orlando Freitas, polícia, Filipa Luís, psicóloga, da direção do Abrigo Nossa Senhora de Fátima da Santa Casa da Misericórdia do Funchal, e Anísia Pestana, psicóloga e diretora técnica da Casa de Acolhimento Residencial Fundação Cecília Zino.