Nuno Fazenda, secretário de Estado do Turismo, Comércio e Serviços, considerou que o grande desafio que se coloca ao setor é crescer com sustentabilidade, aliando o desenvolvimento económico à salvaguarda dos recursos naturais.
O governante, que participou nos Estados Gerais do PS-M por via eletrónica, devido a constrangimentos com o voo, destacou que a Madeira é um destino turístico de excelência, graças aos seus fatores diferenciadores, mas alertou que a dimensão da sustentabilidade “assume um papel muito importante para os desafios do presente e do futuro”.
O secretário de Estado aproveitou também para destacar o esforço promocional que tem sido feito, lembrando o investimento de mais de três milhões de euros efetuado pelo Turismo de Portugal para reforçar as ligações à Madeira, com a introdução da companhia Ryanair.
Apesar dos dados que mostram o crescimento do setor ao nível nacional, Nuno Fazenda não se dá por satisfeito e revelou a ambição do País de “liderar o turismo do futuro”. Um turismo que, classificou, tem de ser mais sustentável, mais coeso e mais qualificado. “Temos de continuar a crescer, mas a crescer melhor”, sublinhou.
Na sua preleção, o governante apontou cinco grandes áreas prioritárias para o setor, a primeira das quais assegurar a preservação e valorização do território, já que sem os recursos naturais e culturais “não há turismo”. Os incentivos às empresas para apostarem na transição digital e climática constituem outra das áreas fundamentais para reforçarem a sua competitividade.
Nuno Fazenda defendeu igualmente a aposta na qualificação da mão de obra e na melhoria das condições salariais dos trabalhadores do turismo. Como afirmou, há uma diferença de 30% entre o salário médio nacional e o salário dos profissionais do turismo. “As pessoas são o principal ativo do turismo”, afirmou, sublinhando a importância de “atrair e reter talento”.
O cada vez maior investimento na promoção foi a quinta área apontada pelo secretário de Estado, defendendo a projeção de Portugal e das suas regiões nos mercados internacionais, para que “possamos ter turismo ao longo de todo o ano e em todo o território”.
Reinventar o turismo fortalecendo o ambiente
Alexander Munõz, professor universitário e consultor internacional, natural da Costa Rica, foi um dos oradores convidados desta edição dos Estados Gerais, destacando as oportunidades que se abriram pelo aumento da procura por turismo com biodiversidade, segurança e variedade, que permitiram ao país centro latino-americano aumentar o lucro proveniente do setor através de estadias mais longas e um incremento do turismo interno. Um exemplo que, no seu entender, poderia ser seguido por regiões como a Madeira.
O orador considerou que “há que reinventar o turismo, sendo que este deve deixar de explorar o meio ambiente e passar a contribuir para o seu fortalecimento”.
Da mesma opinião comungou José Alberto Cardoso, que salvaguardou a necessidade de valorizar o setor através de uma escolha mais seletiva de públicos. Para o gestor hoteleiro, “dificilmente conseguiremos aumentar os salários com um Revpar (receita por quarto disponível) de 60€.
O antigo dirigente da Associação de Promoção da Madeira constatou ainda a necessidade de voltar a ter uma Escola Hoteleira de qualidade. Do seu ponto de vista, perdeu-se muita qualidade na formação e muitos alunos estão lá para completar o secundário sem seguir um percurso na área da hotelaria. “Há que recuperar essa mentalidade que produziu grandes chefs e grandes trabalhadores”, apontou.
Já Filipa Caldeira considera que o agente de viagens “está a vender sonhos” que não se coadunam com o excesso de construção a que se tem assistido na Região e, em particular, nas áreas de grande beleza natural da Madeira. Lamentou igualmente o descontrolo daquilo que denominou de “acampamento selvagem” em zonas protegidas que gera poluição e desprestigia o produto turístico madeirense.
A experiente guia turística defende também que é necessário aumentar os salários no setor, pois na sua opinião faltam muitos trabalhadores nos serviços ligados ao turismo e muitos dos que lá trabalham estão insatisfeitos e acabam por emigrar, com repercussões graves na hospitalidade regional que foi outrora reconhecida internacionalmente.