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“Contas da vida”

A minha filha, à semelhança do meu filho, está a ter dificuldades em escolher uma área vocacional na prossecução dos seus estudos. Entendo-os bem, até porque que quem sai aos seus, não degenera: há 30 anos, vivi exatamente a mesma coisa, à semelhança de tantos outros jovens como eles. O facto de ter uma relação saudável com quase tudo, de matemática à literatura, tornou-se num verdadeiro quebra-cabeças no momento de decidir, mas no fim, decidi pela paixão e formei-me em História.

A decisão contrariou, não só o meu pai, como o próprio percurso feito até então na área da Economia, levando-me a optar pelas Letras apenas no 12.º ano. No momento do tudo ou nada, fui pelo coração e não para aquilo que à partida proporcionaria melhores oportunidades de emprego e melhor vencimento. Assim, deixei as disciplinas de Cálculo Financeiro e a Contabilidade, para dedicar-me à História, principalmente a do Século XX, que, hoje como então, continua a ser absolutamente essencial para não perdermos o amanhã, e compreendermos os autoritarismos e os populismos que, à extrema-direita e à extrema-esquerda, continuam a tentar consumir o nosso mundo.

Acho que escolhi bem, por tudo o que esse entendimento do mundo e da maneira de estar no mundo me deu a nível profissional e pessoal, inclusive nas responsabilidades que assumo hoje. Não tenho dúvidas de que quem tem responsabilidades políticas, deve usar o exemplo de liderança que exerce para assumir uma postura de tolerância, regendo-se por um comportamento na vida pública que privilegie a capacidade de diálogo e o compromisso estratégico no sentido de alcançar consensos com quem pensa de forma contrária à nossa.

A História e a experiência ensinaram-me que não há nenhuma outra forma de resolver problemas. Portanto, é isso que continuo a procurar fazer até hoje: agregar ideias e opiniões de várias pessoas e quadrantes, numa abertura constante ao envolvimento de todos, que é, para mim, um dos mais estruturais instrumentos de uma governação. Foi assim que elaborámos, na Câmara do Funchal, o Orçamento Municipal para 2019, onde a escolha de há 30 anos pelas Humanidades, que tomei na escola, voltou a refletir-se nas decisões que havia para tomar.

O Orçamento do Funchal para o próximo ano não esconde a sua inspiração social, apostando no desenvolvimento justo, equilibrado e solidário de toda a comunidade. É um Orçamento que projeta, uma vez mais, os pilares do nosso projeto de governação e deste mandato, na Educação, na Habitação e no combate às assimetrias históricas do Funchal. É um documento onde é visível o reforço dos apoios sociais, bem como um crescimento dos investimentos plurianuais, essencialmente graças à progressiva redução da dívida e à redução das despesas correntes. E não posso deixar de destacar o simbolismo de atribuir, pela primeira vez na história do concelho, bolsas universitárias aos estudantes funchalenses a frequentarem o Ensino Superior. Este era um dos nossos compromissos com maior significado para o atual mandato, e é com um enorme sentimento de dever cumprido que avançaremos com ele desde já.

Este Orçamento alargará, ainda, o Apoio à Natalidade e à Família no concelho, manterá as devoluções de IMI familiar e continuará a avançar com a gratuitidade dos manuais escolares para o Ensino Básico, até ao 2º Ciclo. É, verdadeiramente, um Orçamento que dá à Educação um palco que ela nunca teve na Madeira, como apoios que irão agora da creche até à Universidade no Funchal. Assim se garantem oportunidades aos nossos jovens e às nossas famílias, num investimento que, não duvido, garantirá os frutos de que precisamos no futuro. É isto que me deixa de consciência tranquila e me realiza. É por isto que gosto do que faço e é por isto que devemos seguir a nossa vocação e nunca, mas nunca desprezar as Humanidades e o que a História e o Progresso têm para nos ensinar, porque nem um Orçamento tem de ser um mero exercício contabilístico. O que um Orçamento tem de fazer é a diferença na vida diária das pessoas. É para isso que estou na política.

Por Paulo Cafôfo, presidente da Câmara Municipal do Funchal, publicado no Jornal da Madeira, no dia 06 de novembro.