O presidente do PS-Madeira alertou, hoje, para o comportamento populista do Governo Regional, que tudo promete em ano de eleições, mas depois não cumpre.
Sérgio Gonçalves falava esta manhã, no âmbito das ‘Jornadas de Março’, promovidas pelas Mulheres Socialistas da Madeira, subordinadas ao tema ‘O perigo dos populismos’, altura em que alertou para os fenómenos que se verificam nos tempos atuais e que, em determinados casos, com medidas orientadas em função da raça, do género ou das crenças religiosas, “podem colocar em causa muitos dos direitos, liberdades e garantias que temos consagrados na Constituição, mas que, nas nossas vidas, damos como adquiridos”.
O líder socialista considerou, contudo, que há também outro tipo de populismos, apontando, por exemplo, algumas das atitudes do Governo Regional, nomeadamente quando promove a integração de professores nos quadros somente em ano de eleições ou quando, também em anos de eleições, atribui de forma discricionária apoios através das Casas do Povo e das Instituições Particulares de Solidariedade Social.
Criticando o Executivo por tudo prometer em ano de eleições e depois não cumprir, o presidente do PS-M deu conta de um conjunto de problemas que não foram resolvidos, entre os quais a situação das listas de espera na Saúde, que duplicaram desde 2015, quando Miguel Albuquerque havia dito que iriam ser reduzidas ou eliminadas na primeira legislatura, até 2019. “Esse também é um tipo de populismo para o qual nós devemos estar atentos”, frisou, acrescentando ainda que ter discursos populistas não corresponde necessariamente depois à resolução dos problemas e das necessidades das pessoas.
Liberdade e democracia não coexistem com o fascismo
Por seu turno, Mafalda Gonçalves explicou que esta iniciativa teve em vista assinalar o Dia Internacional das Mulheres, alertando para o facto de, no momento de crise acentuada, com as famílias a enfrentarem muitas dificuldades, serem as mulheres as mais afetadas, quando se fala, por exemplo, de salários mais baixos.
Depois de apontar os retrocessos que têm vindo a verificar-se em vários países, a presidente das Mulheres Socialistas da Madeira considerou que “é preciso estar alerta, porque a democracia pode servir de trampolim para o fascismo”. Conforme referiu, quando os direitos de alguns estão sonegados, nenhum direito está garantido, sendo imperioso estar atendo aos perigos dos populismos e dos discursos extremistas. “A liberdade, a democracia, o respeito por todos e por todas e pelos direitos humanos não consegue coexistir com o fascismo”, sustentou a também deputada socialista, frisando que há comportamentos e discursos que não podem ser normalizados, porque “podem ser o início e o abrir da porta para os extremismos e os populismos que rapidamente cavalgam e podem destruir todo o sistema”.
Mara Lagriminha, deputada à Assembleia da República e presidente da Estrutura Federativa das Mulheres Socialistas de Santarém, foi uma das oradoras convidadas para o evento, chamando a atenção para os impactos que os populismos têm nos direitos das mulheres e para os retrocessos que têm vindo a se verificar em termos de direitos, liberdades e democracias.
A preletora não deixou de se referir ao facto de a Madeira ser a única região do País onde não é aplicada a lei da paridade, contrariando as recomendações internacionais, exortando, por isso, o Governo Regional a avançar nesse sentido. Conforme advertiu Mara Lagriminha, “também é um risco para a democracia quando os géneros não estão devidamente representados na Assembleia Legislativa”.
Já Patrícia Agrela, outra oradora convidada, alertou para a “legitimidade que a democracia pode garantir” a movimentos populistas, sublinhando que os “autocratas gostam de se submeter à vontade popular para legitimar o seu poder”. A coordenadora do Gabinete de Estudos da JS-Madeira destacou que, atualmente, “o culto da personalidade não se faz com propagandas, nem com panfletos ou marchas, mas sim com a perceção da proximidade”.
“Hoje vemos claramente que esses movimentos populistas, para serem aceites na praça pública, afastam-se de golpes de estado”, salientou, acrescentando que estes instrumentalizam estrategicamente minorias e mulheres jovens que são instigadas ao ódio para desconstruir as narrativas de repressão e discriminação que, na prática, defendem.
Por seu lado, Matilde Silva Gouveia relevou a importância da educação no exercício do pensamento crítico e que o problema “nasce quando ensinamos as crianças a não questionar”. A estudante da Escola Francisco Franco considera que os jovens são ignorados quando partilham a opinião e silenciados por serem “chatos”, e que isto resulta numa população desinformada sem convicções nem ideais. A solução, na sua opinião, passa por “fazer com que nenhum jovem se sinta desprezado ou ignorado, para que não se cale e se conforme com a opinião da maioria”, sendo “melhor criarmos jovens chatos e exagerados do que criarmos fotocópias”.