Aumento de óbitos também se deve à COVID-19
Pensa-se que metade da crescente mortalidade, ao longo deste ano, tem a ver com problemas não relacionados com a COVID-19, como por exemplo doenças cardiovasculares que não foram tratadas e doenças metabólicas, como a diabetes, descontroladas por dificuldades em aceder à medicação ou aos médicos. Mas a verdade é que ainda há muita gente em casa com receio de ir a uma consulta ou de aceder aos cuidados de saúde.
À semelhança de outras pandemias no passado, a infeção por SARS-CoV-2 demonstrou que os efeitos desta pandemia se estendem para além do número de internamentos e mortes diretamente causadas pela COVID-19.
O aumento de incidência da ansiedade e da depressão é uma das consequências mais evidentes da pandemia. Os receios da COVID-19 e das suas consequências, em nós ou nos nossos familiares, tiveram repercussão. Há, de facto, um peso significativo desta componente, com alterações daí decorrentes que podem implicar risco de outras doenças: as pessoas tornam-se mais sedentárias e pode haver mais excesso de álcool, ou de alimentos, o que pode despoletar uma descompensação de doenças de base ou gerar outras patologias.
Apesar de tudo, ainda há muito receio de se contrair uma doença ao ir a um hospital, centro de saúde ou urgência. É interessante perceber que, em março de 2021, houve uma queda de quase 50% do número de pessoas que iam ao serviço de urgência. Nas consultas de rotina também houve uma queda enorme, que na minha opinião se deve a duas razões: Por um lado, os cuidados tornaram-se prioritários para a COVID-19 e houve uma limitação de acesso e, por outro lado, perto de 60% das consultas programadas não foram feitas e, dessas, cerca de 40% foram desmarcadas pelas próprias pessoas.
Com base nestas evidências, ainda que indiretamente, a COVID-19 é responsável por uma parte dos óbitos verificados.
Prevenção da toxicodependência exige estratégia concertada
Recentemente foi notícia o facto de a Madeira estar no topo das regiões do País onde o consumo de novas substâncias psicoativas é maior. O acesso cada vez mais facilitado a estas drogas faz com que este seja um problema crescente e transversal aos vários estratos sociais, situação que tem de ser merecedora de uma atenção particular por parte das entidades governativas.
Como se a problemática do consumo não fosse, por si só, preocupante, é ainda mais inquietante saber que são os próprios responsáveis da Saúde a admitir que a situação não tem tido a resposta adequada. Recorde-se que o diretor do Serviço de Psiquiatria do SESARAM reconheceu que, nos últimos 10 anos, “os serviços de saúde na RAM não têm feito o seu trabalho”.
A par disso, a própria Polícia Judiciária já considerou que tem havido um agravamento do tráfico e do consumo de substâncias psicoativas sintéticas, sendo que, para fazer face a esta situação, esta força policial prevê a instalação na Região de um laboratório e equipamentos que permitam identificar e analisar mais rapidamente estas drogas.
O Governo Regional não pode continuar a assobiar para o lado e a fingir que o problema não existe. Pelo contrário, este é um flagelo cada vez mais visível e que tem vindo a destruir cada vez mais vidas e famílias.
É urgente uma estratégia concertada e multidisciplinar – envolvendo serviços de saúde, autoridades policiais, instituições e a própria sociedade – no sentido de prevenir, combater e proceder ao tratamento das toxicodependências.
Orçamento Regional não resolve problemas dos madeirenses
A proposta de Orçamento Regional para 2022 será debatida e votada na Assembleia Legislativa da Madeira ao longo da próxima semana.
Infelizmente, o Orçamento e Plano propostos pelo Governo Regional não têm correspondência à medida das necessidades da população da Madeira e do Porto Santo. Numa Região com elevados índices de pobreza e desemprego e com enormes desigualdades sociais e territoriais, uma vez mais o Orçamento Regional vem privilegiar os mesmos grupos e interesses de sempre e ignora a resolução destes problemas.
Exige-se mais do Governo Regional e da maioria que o suporta no Parlamento, a começar pela humildade de, em sede de especialidade, aceitar as propostas da oposição, que têm como único objetivo construir um melhor orçamento, capaz de solucionar os problemas da nossa Região.