Mafalda Gonçalves alertou hoje para a necessidade imperiosa de encontrar soluções que contribuam para fixar as pessoas na costa norte da ilha e, desta forma, esbater os problemas do despovoamento e do envelhecimento populacional.
“É preciso trazer mais vida ao norte”, afirmou a deputada, que foi oradora em mais uma iniciativa da ‘Academia PS’, desta feita em Santana, subordinada à temática da coesão territorial, e que contou com a presença do líder do partido, Sérgio Gonçalves.
Lembrando que as desigualdades entre o norte e o sul da ilha são notórias há muito tempo, a parlamentar constatou o facto de o PPD, que governa a Região há 47 anos, ter achado que o problema se resolvia com as infraestruturas viárias. “Acreditam que ao se encurtar as distâncias com as vias rápidas está resolvido o problema, mas, na verdade, esse é apenas um dos fatores que se deve ter em conta”, afirmou a socialista.
Mafalda Gonçalves deu conta do envelhecimento da população dos concelhos do norte da Madeira, realidade que decorre do facto de os jovens terem sido “obrigados a emigrar à procura de sustento e das oportunidades que a terra que os viu nascer não tem para lhes oferecer”. “É preciso, portanto, implementar medidas que travem a desertificação deste território e que potenciem a fixação de jovens”, considerou.
Segundo a preletora, a criação de emprego revela-se fundamental, pelo é preciso criar incentivos ao empreendedorismo e à fixação de empresas que sejam geradoras de postos de trabalho. “Seria necessário implementar um conjunto de medidas, alicerçadas numa estratégia regional que passe por incentivos fiscais em sede de IRC para empresas que se fixem no Norte e que criem novos postos de trabalho”, referiu, defendendo também a criação de um apoio aos desempregados que celebrem contratos de trabalho ou criem o seu próprio emprego nestas localidades e que implique mobilidade geográfica.
A criação de bolsas de habitação para arrendamento jovem, garantindo habitação a custos acessíveis a partir da valorização de casas devolutas e da reabilitação de património degradado ou abandonado, envolvendo os municípios e os proprietários, é outra das soluções apontada por Mafalda Gonçalves, a par da reestruturação das carreiras e dos horários dos transportes públicos, para permitir um maior e mais rápido acesso a estas localidades, adequado às necessidades das pessoas.
Por outro lado, a deputada do PS apontou a importância da valorização das tradições e costumes, mas também do ambiente e da paisagem, o que passa pela implementação de projetos que envolvam a comunidade local e que tenham como objetivo primeiro desenvolver a região e atrair a gente de que o Norte precisa. “A estratégia poderá passar por valorizar os produtos regionais e a gastronomia local na oferta formativa nas áreas da hotelaria e restauração, pela criação de roteiros culturais e de lazer que tenham como referência as potencialidades do Norte”, explicou.
A um outro nível, Mafalda Gonçalves considerou que o encurtamento das distâncias não se faz apenas através das vias rodoviárias, mas que pode acontecer através da acessibilidade digital. “É preciso investir numa cobertura de rede generalizada e que permita o acesso digital global a todos os cidadãos, para estudar ou trabalhar remotamente, atividade que ganhou maior prevalência com a pandemia. Hoje, cada vez mais se torna possível trabalhar a partir de casa recorrendo às novas tecnologias e, se a distância e o tempo que se gasta nas deslocações constituem um fator de desigualdade, essa pode ser esbatida diminuindo o número de deslocações semanais, trabalhando remotamente a tempo parcial. Para isso, tem que se garantir uma cobertura de rede que possibilite esta modalidade de uma forma eficiente e que permita também que o Norte se torne um polo de atração de nómadas digitais”, declarou.
É preciso recuperar a ligação das pessoas aos territórios
Por seu turno, também o presidente do PS Madeira vincou a necessidade de fixar população no norte da ilha e inverter o êxodo rural que afeta esta zona. Sérgio Gonçalves considerou que é preciso criar condições para que os jovens se fixem nestes territórios, não apenas com incentivos fiscais, mas também apostando na criação de incentivos e apoios à recuperação de habitações em espaço rural e na criação de empregos e melhores salários.
O líder socialista advoga que é fulcral recuperar a ligação das populações com o próprio território, sendo que, no caso do setor primário, isso pode ser feito através da valorização do produto regional, gerando mais valor em toda a cadeia de produção, o que permitirá às novas gerações dedicarem-se a um setor que lhes permita melhores rendimentos do seu trabalho, constituir família e fixar-se neste território.
Sérgio Gonçalves alertou ainda que há que aproveitar o potencial turístico destas localidades, recuperando as suas tradições e caraterísticas únicas, de modo a que deixem de ser apenas pontos de visita, mas também locais de usufruto e estadia.