A candidata do Partido Socialista à presidência da Câmara Municipal de Santa Cruz defende a criação de um Museu do Vime e do Artesanato, como forma de valorizar a cultura e as tradições do concelho. Mafalda Gonçalves preconiza um espaço que funcione como um museu vivo, de modo a que os visitantes, particularmente os mais jovens, possam ter contacto com as tradições e experienciá-las, sendo esta também uma forma de as preservar, de as transmitir às gerações futuras e de assegurar a sua continuidade.
Natural da Camacha, a candidata do PS mostra a sua preocupação em relação ao facto de a obra de vimes – um produto diferenciador e caraterístico daquela freguesia, que durante tantos anos levou o nome da Madeira além-fronteiras – estar a perder-se. Mafalda Gonçalves acusa o Governo Regional e os órgãos de poder local (a Câmara e a Junta de Freguesia) de terem abandonado o setor e de não terem acautelado os apoios aos artesãos, quer para se manter o cultivo dos vimes, quer para garantir que esta arte é passada às gerações vindouras. “Como consequência, o cultivo dos vimes foi abandonado e, hoje, os pouquíssimos artesãos que ainda produzem algumas obras em vimes têm que importar a matéria prima da China, de Espanha ou do Chile”, lamenta.
A candidata alerta para o facto de estar em jogo “a valorização das nossas raízes e aquilo que somos e que nos identifica enquanto povo”, explicando que o que distingue a Madeira como destino turístico é o que a diferencia, a sua nossa memória e as suas tradições.
Ainda que esta seja uma competência do Governo Regional, Mafalda Gonçalves entende que quando o Executivo se demite das suas obrigações são as autarquias que têm de se substituir à administração regional, razão pela qual, na qualidade de candidata à Câmara de Santa Cruz, se propõe a criar medidas que garantam a continuidade desta e de outras tradições do concelho.
“Defendemos a necessidade urgente de criar incentivos à produção de obras de vimes e à plantação de vimeiros ao longo do leito das ribeiras, que, além de salvaguardarem a paisagem típica, também zelam pela segurança das pessoas”, aponta, acrescentando o propósito de criar um Museu do Vime e do Artesanato, “como forma de valorizar a nossa cultura, as nossas tradições, aquilo que nos torna únicos no mundo, cristalizando a nossa memória coletiva”.
Tal como explica, o objetivo é ter um museu vivo, onde as novas gerações e os visitantes possam experienciar o processo de manufatura da obra de vimes, mas também de outras peças de artesanato (como os barretes de orelhas, os casacos de lã dos pastores, as colheres de pau e os instrumentos musicais). O projeto visa igualmente valorizar a gastronomia típica, recuperando a produção de sidra e de pratos como o frangolho e o goife, e, ainda, preservar o folclore e múltiplas manifestações musicais e culturais do concelho.
Mafalda Gonçalves recorda que, em 2003, no decurso da 32.ª Conferência Geral das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, a UNESCO lançou uma convenção para a salvaguarda do património cultural imaterial, no qual se incluem as tradições ou expressões vivas herdadas dos nossos antepassados e transmitidas aos nossos descendentes, onde se enquadram o artesanato tradicional e as indústrias ligadas à tradição. No entanto, lamenta que, passados 18 anos, “continuamos a ver este apelo da UNESCO por cumprir, nomeadamente no concelho de Santa Cruz, no que diz respeito à obra de vimes, mas também a outras indústrias tracionais que tanto impacto tiveram no município, em especial na freguesia da Camacha, e que fazem parte da nossa história e da nossa memória coletiva”. “A riqueza de um povo é também a sua memória e o futuro constrói-se alicerçado nas heranças das nossas gentes. Sabemos para onde queremos ir e sabemos que aquilo que somos resulta também de onde viemos”, vinca a candidata.