O escritor Luís Osório considerou hoje que a ausência de rotatividade de poder constitui uma perda para a democracia.
O ex-jornalista, que foi o orador convidado das jornadas Parlamentares do PS, subordinadas ao tema ‘Liberdade e Democracia: Lições de Abril para o Futuro’, constatou o facto de nestes quase 50 anos a Região ter vindo a ser governada sempre pelo mesmo partido, mas destacou o facto de, em 2019, o PS ter conseguido alcançar um “resultado extraordinário” nas eleições legislativas regionais.
Como afirmou, a democracia vive da rotatividade de poder e, “se não existir a possibilidade de as pessoas poderem mudar o poder, esta [democracia] não existe na sua base”. “Acho sempre que é uma perda para a democracia quando não há rotatividade de poder, por todos os motivos”, referiu Luís Osório, acrescentando que isto pode aplicar-se à Madeira, mas também a todos os lugares onde o poder se perpetua.
O escritor considerou também que “alguém que se perpetua no poder durante 40 anos [como foi o caso de Alberto João Jardim] traz sempre em si obra, mas traz também todos os vícios que o poder traz, uma clique de dependência que foi construída”, não só aqui, mas em todos os lugares onde o poder se perpetua.
O orador entende, aliás, que este constitui um desafio para a oposição, que não pode descurar aquele que é o crescimento económico e as elites, mas tem de estar próxima e “ao lado das pessoas que têm bilhetes que as condenam a não sonhar. Tem de se misturar com as pessoas e estar nos bairros pobres, pois as pessoas têm de sentir que alguém as faz acreditar que é possível sonhar e que é possível acreditar”.
A um outro nível, Luís Osório considerou que a democracia e a liberdade precisam de ser “regadas” como as plantas. “É um bocadinho como o bem e o mal. Dentro de nós temos o bem e o mal. Depende do que regamos. Quando regamos o mal, este cresce muito mais depressa, é como as ervas daninhas”, sustentou.
O preletor alertou que a democracia e a liberdade estão hoje em risco e que este é um fenómeno global. “Vivemos numa sociedade que está a potenciar o crescimento de sistemas e de ideias que querem matar a democracia. Essas ideias estão a crescer e tudo se pode desmoronar de um momento para o outro”, afirmou, acrescentando que a nossa geração, que não viveu o 25 de Abril, “vai deparar-se com uma situação pela primeira vez na sua vida: a ideia de que tudo se pode desmoronar em algum momento”.
O conflito na Ucrânia foi outro dos temas também citados por Luís Osório, referindo que quando víamos imagens da Segunda Guerra Mundial, dos campos de concentração e do Holocausto, não imaginávamos que esta situação se repetisse. “Tudo isso era quase uma fábula. Sabemos que aconteceu, mas é como se fosse uma ficção, porque está a uma realidade cada vez mais distante. Hoje, percebemos que o mal está dentro de nós e há muita gente a regá-lo com grande paixão até”, declarou.