Os números da sinistralidade na Madeira justificam a necessidade de criar um plano regional de segurança rodoviária, defendeu, esta manhã, o delegado regional da Prevenção Rodoviária Portuguesa, nas jornadas Parlamentares do PS-Madeira, subordinadas ao tema ‘Mobilidade em Rede: Transportes que ligam Pessoas e Oportunidades’.
Nélio Olim, que foi interveniente no painel ‘Segurança Rodoviária e Mobilidade Segura’, mostrou a sua preocupação em relação ao facto de, este ano, já se terem registado 11 vítimas mortais nas estradas da Região. Esta situação, disse, “obriga a que seja feito um trabalho de fundo na criação de um plano regional de segurança rodoviária, que defina algumas estratégias para travar esta mortalidade e o número de feridos”.
O responsável explicou que, normalmente, a Região baseia-se no plano nacional de segurança rodoviária, dando conta que, neste momento, o documento ainda não foi aprovado e que ainda não é conhecido o documento final referente à Estratégia 2030. “Naturalmente, existem já alguns ‘guidelines’ que nós já temos noção de quais serão, mas ainda assim, assim que aprovada esta estratégia, há sempre necessidade depois de a adaptar à Região, porque a nossa orografia é diferente e a nossa realidade é outra”, referiu.
O delegado regional da Prevenção Rodoviária Portuguesa vincou que a grande preocupação passa por prevenir os acidentes de viação, sensibilizando e formando os condutores para a adoção de comportamentos responsáveis e a redução de infrações.
Nélio Olim explicou que o plano regional terá de passar por fazer uma triagem das nossas estradas, focar a atenção nos pontos negros, onde se registam mais acidentes, e tentar perceber as causas dessa situação.
O preletor apontou que os principais problemas na Região são o excesso de velocidade, a condução sob o efeito de álcool e o uso do telemóvel, práticas que a prevenção rodoviária tenta mitigar pela via da sensibilização. Referiu também que, na Região, o álcool é um fator cultural e manifestou a sua preocupação pelo facto de, estando em novembro, termos já o referido número de vítimas mortais em consequência de acidentes de viação, quando ainda falta o período associado às festividades de Natal e Fim de Ano, durante o qual, normalmente, há mais acidentes.
Este painel, que foi moderado pela deputada Sancha de Campanella, contou igualmente com a participação do comissário Edgar Castro, que salientou que a sinistralidade rodoviária é uma preocupação da PSP, mas deve também preocupar toda a sociedade. “Tudo o que seja acima do zero na sinistralidade rodoviária é um problema”, afirmou o orador, frisando a importância da prevenção e da fiscalização para reduzir esta realidade.
O comissário Edgar Castro adiantou que o excesso de velocidade é a principal causa de acidentes na Região e considerou que uma das soluções para travar esta situação poderia passar pela colocação de radares fixos.
Perante o crescimento do turismo, referiu que onde há mais tráfego há mais acidentes e apontou a necessidade de termos de nos adaptar a essa realidade.
Outro orador convidado foi Colin Ferreira, da Associação de Motociclismo da Madeira, que destacou a preocupação do PS em abordar esta temática e apresentar propostas relacionadas com a prevenção rodoviária e com o combate à sinistralidade.
O preletor apontou que esta é uma questão que tem de envolver toda a sociedade, quer sejam as autoridades policiais (PSP e GNR), a Associação de Municípios, a Prevenção Rodoviária Portuguesa, a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária e as direções regionais da Saúde e da Educação.
Refira-se que os dados indicam que 50% das vítimas mortais na estrada são motociclistas. Colin Ferreira adiantou que, amanhã, Dia Mundial em Memória das Vítimas na Estrada, realizar-se-á uma marcha lenta entre a avenida Sá Carneiro e o monumento ao motociclista, na avenida Mário Soares.

Outro painel das Jornadas do Grupo Parlamentar do PS, moderado pelo deputado Gonçalo Leite Velho, foi subordinado ao tema ‘Uma Nova Geração de Políticas de Mobilidade para a Madeira, incluindo a Mobilidade Inter-Ilhas e Ligações Externas’, que teve como oradores convidados os presidentes da Câmara Municipal de Machico e do Porto Moniz, Hugo Marques e Olavo Câmara, respetivamente.
O autarca de Machico deu conta do contrassenso em termos de planeamento no que se refere à via rápida, apontando a inexistência de uma saída direta do aeroporto para Machico, bem como de uma entrada em Água de Pena, no sentido Funchal-Machico.
Outra situação focada prende-se com o facto de o concelho de Machico ter um porto de carga no Caniçal, mas os centros de logística estarem na Cancela ou no Funchal, obrigando ao transporte pesado de mercadorias, com os constrangimentos que são de todos conhecidos na via rápida. “Há a noção de que tudo funciona à volta do Funchal”, disse, considerando que os centros de logística deveriam estar sediados no Caniçal. Face a esta situação, uma das possíveis soluções poderia ser a definição de um horário específico para o transporte pesado de carga na via rápida entre o Caniçal e a Cancela.
Face aos constrangimentos que se verificam atualmente no trânsito de e para o Funchal, Hugo Marques considerou que o metro do superfície e o ‘metrobus’ poderão ser uma solução, e perguntou porque não equacionar uma ligação marítima entre Machico e o Funchal, que pode ser feita de forma rápida e sem ter de enfrentar o trânsito.
O incentivo ao uso do transporte público é outra das medidas defendidas pelo presidente da Câmara de Machico, que, naquele concelho, preconiza também a criação de mais estacionamentos na periferia, o recurso a uma mobilidade mais sustentável e a primazia pelos espaços pedonais.
Por seu turno, o presidente da Câmara Municipal do Porto Moniz deu nota da necessidade de pensar o tema da mobilidade a médio e a longo prazo, salientando que “temos de perceber qual o destino que queremos dar à Região e qual o caminho que queremos seguir”, criticando ainda os que consideram que já tudo está feito.
Perante a atual realidade, marcada pelo aumento expressivo do trânsito, decorrente também do crescimento do turismo, Olavo Câmara considera que a Região demorou “muito tempo a aparecer com respostas”, as quais, mesmo assim, vão surgindo de forma isolada, o que levará a que, daqui a alguns anos, venhamos a sentir as consequências. “Temos de olhar para a forma como o turismo mudou na Região”, disse, apontando como exemplo o facto de antes o setor ser marcado pelas excursões e, atualmente, os turistas preferirem conhecer a ilha de carro próprio (de aluguer).
O autarca do Porto Moniz deu também conta da intenção de criar uma nova estrada no Seixal, de modo a que o trânsito possa fazer-se em sentido único e de forma mais fluída, e adiantou ainda que está a estudar a possibilidade de criação de um transporte público municipal que ligue as quatro freguesias do concelho.
