Paulo Cafôfo falava no âmbito da 7.ª edição do “Roteiro Geração Madeira”, promovido pela eurodeputada Sara Cerdas, que decorreu na Ponta do Sol, subordinado à temática ‘Agricultura – Agir local, Pensar Global”. O líder socialista disse que o Governo Regional não tem tido a capacidade de usar os muitos milhões que tem recebido da Europa, vindo a derramá-los em vários locais, como na marina do Lugar de Baixo, fazendo com que para a agricultura “sejam sempre migalhas”.
Cafôfo deu conta que na Região a área agrícola tem vindo a diminuir, assim como o número de agricultores, adiantando que estes correspondem a 9% da população, quando, por exemplo, nos Açores, 22% da população está na agricultura. Outro problema tem a ver com a dificuldade em atrair os jovens para que se fixem na agricultura profissionalmente e de uma forma sustentável e rentável. As dificuldades na valorização dos produtos regionais e a baixa produtividade foram outros assuntos focados pelo dirigente socialista, que aproveitou também para criticar os bloqueios e impedimentos ao associativismo, como acontece com a GESBA. “Ninguém está contra a GESBA. O que estamos contra é que os agricultores não possam, se quiserem, não estar dependentes da GESBA e formarem eles próprios a sua associação. Nós não queremos que o Governo ponha a mão em tudo. O que queremos é o contrário, é que o investimento público e as políticas públicas agrícolas possam servir para incentivar a atividade e atrair gente para a agricultura de uma forma rentável”, declarou.
Paulo Cafôfo referiu-se ainda aos problemas do despovoamento dos concelhos rurais, da falta de cadeias curtas de abastecimento e da falta de água, acusando a ARM de “não fazer nem deixar fazer”.
Frisando que, apesar dos muitos milhões que entraram desde que Portugal faz parte da UE e desde que a Madeira tem acesso a esses fundos, os problemas da agricultura ainda não se resolveram, o responsável sublinhou que é preciso uma estratégia. “Não vemos a agricultura como uma atividade estratégica para o desenvolvimento da Região”, lamentou, acrescentando que este não deveria ser “um setor desprezado, em que se dá alguns subsidiozinhos”, mas que devia ser um setor gerador de emprego e de riqueza.
O socialista criticou também o facto de o Plano de Recuperação e Resiliência da Região não contemplar quaisquer verbas para a agricultura. “Todo o dinheiro que vem, o Governo está a guardar para si para distribuir para os interesses do costume”, acusou.
Paulo Cafôfo enumerou ainda três áreas que considera fundamentais para o futuro no que diz respeito ao setor. Em primeiro lugar, a diminuição da nossa dependência do exterior, com a valorização do produto regional, um aumento da nossa produção, a diversificação da economia agrícola e a aposta na agricultura biológica. Um segundo aspeto prende-se com as questões da adaptação climática e da transição ecológica, sendo necessário uma maior eficiência dos recursos hídricos e um novo modelo de gestão florestal. Por fim, apontou a importância do ordenamento do território para combater o despovoamento. “Não se pode povoar sem olhar para o setor agrícola”, concluiu.
A iniciativa contou igualmente com as intervenções da eurodeputada socialista Sara Cerdas, que abordou as matérias relacionadas com a agricultura numa perspetiva europeia, mais concretamente a Estratégia do Prado ao Prato e o Pacto Ecológico Europeu, do deputado à Assembleia da República Olavo Câmara, que falou do panorama nacional da agricultura e do investimento previsto para o setor, e ainda da presidente da Câmara Municipal da Ponta do Sol, Célia Pessegueiro, que abordou a estratégia e o futuro da agricultura naquele concelho.