O Serviço Regional de Saúde tem de ser, cada vez mais, um serviço com forte componente preventiva, até porque é aí que todos os cidadãos e a Região podem ganhar muito. Se houve ganhos em Saúde que propiciaram um alargamento da esperança média de vida na Região, significa que teremos uma população tendencialmente mais envelhecida. E isso coloca-nos desafios tremendos, desde logo na implementação de políticas de prevenção da doença, para contrariar a preocupante realidade de termos atualmente apenas 9% da população com mais de 65 anos com plena saúde.
Urge a implementação de programas de Educação para a Saúde, que fomentem hábitos saudáveis de vida, recomendando a atividade física e uma alimentação saudável, despertando para o impacto negativo do consumo excessivo de bebidas alcoólicas, da publicidade e da comida processada, ou seja, aumentando a literacia em Saúde.
A quem interessa uma população doente? Só a quem ganha com isso. Não me parece que a Região tire qualquer proveito da doença. Significa, pois que a Saúde nunca pode deixar de ser uma prioridade na ação governativa. As pessoas valorizam tanto a sua saúde, que estão dispostas a pagar muito dinheiro, quando o têm.
Talvez por isso haja cada vez mais investimentos privados em clínicas e hospitais. Não, não estou contra quem investe na Saúde, mas sou contra que a oferta privada seja usada como desculpa para o desinvestimento do setor público ou que seja motivo para subtrair qualidade aos serviços públicos de Saúde, onde todos deveriam ter acesso, respeitando o princípio da universalidade e solidariedade do Estado e da Região, mais concretamente.
Quem tem recursos financeiros não encontra grandes obstáculos no acesso a tratamentos, pois pode recorrer a uma panóplia de ofertas no setor privado, mesmo fora da Região; mas quem vive de salários baixos ou sem rendimentos fica limitado à oferta que a Região oferece. E não esqueçamos que quase 30% da população no arquipélago da Madeira é pobre e que mais de 60% dos trabalhadores vivem com menos de 800€ mensais; cerca de 10% dos idosos vivem com pensões de sobrevivência (Pordata); 21% vive com o ordenado mínimo.
Podemos não querer ver esta realidade ou admiti-la sequer, mas quem passa por dificuldades todos os dias sabe o quão difícil é aceder a serviços de Saúde e só tem duas opções: não se trata, ou recorre aos serviços públicos. E é para com esta franja da população que a Região tem maiores obrigações, assim como para quem paga os seus impostos.
Artigo de opinião de Sofia Canha, coordenadora dos Estados Gerais para o Desenvolvimento Social publicado no Diário de Notícias da Madeira no dia 26 de abril.