O tempo que passou de governação tem um rosto principal: Alberto João Jardim e nenhum outro, um homem com muitas imperfeições, mas certamente também com as suas virtudes. Estranhamente, foi Miguel Albuquerque primeiro e Passos Coelho depois os que mais procuraram ostracizar a memória histórica de Alberto João. Depois de um Plano de Ajustamento Económico e Financeiro aplicado em dose dupla à Região, numa tentativa forçada de afastá-lo da governação em detrimento de Albuquerque, e depois de uma série de tropelias nas primeira e segunda eleições internas do PSD Madeira, o que Albuquerque mais tentou fazer assim que chegou ao Governo Regional foi vetar a imagem e o património político histórico de Alberto João ao esquecimento. Limitá-lo a uma nota de rodapé, sem direito a livro de memórias. Albuquerque é um dos principais responsáveis pela forma como Alberto João saiu pela porta pequena da governação, assim como são os seus companheiros de partido os principais responsáveis por outros desvarios amplamente divulgados sobre si mesmo.
Apesar de tudo isto e ao contrário do que o PSD procura fazer passar, as eleições de 2019 não são um plebiscito aos últimos 43 anos de governação. Não são uma avaliação à governação de Alberto João. Não: são uma avaliação à governação de Miguel Albuquerque. Mais: são uma avaliação à governação de Miguel Albuquerque e de Pedro Calado. A história de ambos não é a da evolução da Madeira e muito menos é a de Alberto João Jardim. A história de Albuquerque e Calado é a de 20 anos de governação da Câmara do Funchal primeiro, com três resgates financeiros pelo caminho, e a de 4 anos de governação da Madeira depois.
E ao fim de 4 anos, que Madeira temos? A Madeira de Albuquerque está melhor, ou está pior do que a que Alberto João nos deixou? Ultrapasse-se a tentativa de lavagem da imagem democrática, que esbarra na história que trazem de uma Câmara onde a oposição não falava, nem se celebrava Abril, e passemos às questões de facto. A governação de Albuquerque não trouxe mais transparência, mais rigor, ou sequer mais competência à governação. Não trouxe mais abertura à sociedade civil e muito menos trouxe uma Autonomia diferente daquela que Jardim nos deixou, a do contencioso puro e duro com um inimigo externo imaginário. Albuquerque não veio para fazer diferente; veio para fazer igual, parecendo diferente, e acabou a fazer pior.
A Saúde da Madeira está pior com Albuquerque do que estava com Jardim. A Educação de Albuquerque não trouxe um único traço de inovação face à de Jardim. Os monopólios da economia de Albuquerque são os mesmos de Jardim e os níveis de desemprego, emigração e a falta de oportunidades não melhoraram. Não se avançou nas questões de Igualdade, nem na Ambientais.
Alberto João bem pode “engolir o elefante” das tropelias a que foi sujeito por Albuquerque e da tentativa de apagar o seu passado a que foi sujeito, para aparecer agora, 4 anos depois e na recta final das eleições regionais, para dar um empurrão ao PSD. Albuquerque bem pode louvar agora a imagem do homem que procurou denegrir no passado. Alberto João e Albuquerque podem caminhar lado a lado, procurando fazer parecer que afinal são o mesmo, mas não são e os resultados da cópia forçada confirma que essa é bem pior que o original.
Alberto João Jardim disse recentemente que o seu partido é a Madeira. O de muitos madeirenses e porto-santenses também. É a esses que cabe agora avaliar o resultado destes 4 anos de governação de Albuquerque – e essa governação é mesmo, tal como aconteceu no Funchal comparativamente a Virgílio Pereira, a pior que já tivemos. Por tudo isso, o que é preciso mesmo é coragem para mudar o estado da Região – não com mais do mesmo, mas com quem escolheu a Madeira como o seu partido.
Artigo de opinião de João Pedro Vieira, secretário-geral do PS-Madeira, publicado no Diário de Notícias da Madeira no dia 11 de julho.