Ana Cruz, jurista e especialista em habitação, considerou “assustador” o valor mediano das casas por metro quadrado na Região. A docente da Universidade de Aveiro, que foi uma das oradoras convidadas no painel sobre Habitação, Saúde e Educação, no âmbito do debate ‘O Orçamento Regional para lá dos números’, alertou para o facto de a Madeira ser a região mais cara do País para comprar e arrendar casa. Como referiu, enquanto que no País o preço médio de venda por metro quadrado é de 1.939 euros, na Madeira é de 2.263 euros. Quanto ao arrendamento, a média nacional é de 7,46 euros por metro quadrado, ao passo que na Madeira é de 8,13 euros.
Perante esta “realidade dramática”, Ana Cruz advertiu para as dificuldades sentidas essencialmente pela classe média, já que, se for candidatar-se à habitação social, é preterida em função das famílias mais carenciadas, mas também não tem acesso pela via do mercado à habitação. “As políticas terão de ser pensadas para a classe média, porque, neste momento, são os novos pobres em Portugal”, alertou.
A preletora considerou também necessário reforçar o parque público de habitação na Região, mas também reforçar o setor do cooperativismo.
Construção 20% mais cara na Madeira
Por seu turno, o arquiteto Bruno Martins também enveredou pelos elevados preços da habitação e que estão na base das muitas carências existentes, adiantando que na Madeira a construção é 20% mais cara do que em Portugal Continental.
O ex-vereador na Câmara Municipal do Funchal destacou a aposta feita pela autarquia quando era governada pelo PS, tendo aprovado a Estratégia Municipal de Habitação, e disse que “o pouco trabalho” que o atual executivo está a fazer já foi deixado pela vereação anterior.
Bruno Martins relevou a importância da reabilitação urbana, mas alertou para o facto de grande parte dessa habitação estar a ser usada para alojamento local, sendo esta uma questão que é necessário ser cada vez mais pensada, no sentido de haver alguma restrição.
É necessário uma política virada para a Saúde
Já no domínio da Saúde, Sara Cerdas, médica que agora termina o seu mandato como deputada ao Parlamento Europeu, identificou os vários problemas, onde se incluem as listas de espera, mas também as próprias políticas que têm sido seguidas para o setor.
A deputada eleita à Assembleia Legislativa da Madeira apontou a importância de investir mais na prevenção e na promoção da saúde. “Não temos uma política virada para mais saúde. Temos uma política de saúde virada para a doença”, observou.
Sara Cerdas vincou também que a aposta no setor não deve ser vista como uma despesa, mas como um investimento nas pessoas. Deixou ainda reparos à falta de transparência na saúde.
Altas problemáticas precisam de solução urgente
Já Gonçalo Jardim, enfermeiro especialista em enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria, mostrou a sua preocupação em relação à questão das altas problemáticas na Região.
O orador disse que há pessoas a residir no serviço de urgência, alertando que são necessários mais lares e investir em cuidados continuados. “Estamos a intervir perante o prejuízo e não perante o problema”, reparou.
Como explicou Gonçalo Jardim, na base desta situação estão, maioritariamente, questões relacionadas com a pobreza, com a falta de condições habitacionais para receber estas pessoas que precisam destes cuidados, bem como a falta de recursos humanos.
O enfermeiro considerou que as políticas de longevidade estão muito focalizadas na terceira idade, quando deveriam ser aplicadas ao longo de todo o ciclo vital. Disse ainda que ao longo destes anos têm sido esquecidas as políticas de promoção da saúde e prevenção da doença em ciclos anteriores à terceira idade.
Usar os recursos para melhorar as aprendizagens
No tocante à Educação, Cristina Trindade, professora doutorada em História Moderna e investigadora do Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, referiu-se ao facto de, repetidamente, ser destacado o parque escolar e os melhores rácios na educação na Região, mas isso não se refletir em resultados de excelência.
“É preciso estudar o que falha, onde falha e porque é que falha”, disse, acrescentando que a Madeira tem capacidade de se auto-estudar. “Temos obrigação de usar racionalmente os recursos que temos para melhorar o sucesso das aprendizagens na Madeira”, rematou.