Sérgio Gonçalves acusa o presidente da Câmara Municipal do Funchal (CMF) de recorrer ao discurso do medo e de revelar tiques ditatoriais ao defender que o Exército patrulhe as ruas do Funchal.
No entender do presidente do PS-Madeira, “a sugestão proposta por Pedro Calado para fazer face ao crescente problema da insegurança e da toxicodependência na capital não tem qualquer cabimento, é totalmente desprovida de sensatez e só pode ser entendida como uma forma de esconder a incompetência de décadas de governação do PSD na Região, bem como a inércia do executivo municipal que o próprio lidera”.
Sérgio Gonçalves recorda ainda que, quando Pedro Calado era vice-presidente do Governo, culpava a governação socialista na autarquia por estas problemáticas, esquecendo-se da sua própria responsabilidade enquanto governante. Agora que é presidente da Câmara, “volta a sacudir a água do capote como se nunca tivesse culpa de nada”, acusa o líder socialista.
Além de Pedro Calado, o então candidato à Assembleia Municipal, José Luís Nunes, levantou esta questão aquando da campanha eleitoral, dando conta por exemplo dos problemas ligados à salubridade, à droga e ao congestionamento do trânsito e prometendo que estes constrangimentos seriam “rapidamente debelados logo depois de 26 de setembro”. Ora, passado um ano de mandato do atual executivo camarário liderado pela coligação PSD/CDS, Sérgio Gonçalves constata que “as problemáticas da toxicodependência e da insegurança na capital madeirense não só não foram resolvidas, como têm vindo a agravar-se de forma galopante e preocupante nos últimos tempos, com relatos quase diários de assaltos, de violência e de consumo de estupefacientes”.
O presidente do PS-Madeira considera que é urgente encontrar soluções para fazer face a esta realidade, mas diz perentoriamente que tal “não se faz colocando a tropa na rua”. “Isso é completamente absurdo, porque não estamos numa ditadura militar”, vinca, apontando também a ineficiência que representa o fecho de ruas a cadeado.
Para Sérgio Gonçalves, na base deste problema, estão anos e anos de um modelo de desenvolvimento regional errado, que não criou oportunidades para todos e que deixou muitas pessoas para trás. “Apesar dos alertas repetidamente lançados pelo PS, o Governo Regional – do qual o atual presidente da Câmara do Funchal já fez parte – manteve sempre a sua postura autoritária do ‘quero, posso e mando’, insistindo em políticas desajustadas da realidade, adotando uma atitude negacionista e acusando sempre os outros por problemas pelos quais é o único responsável”, afirma.
O líder dos socialistas madeirenses salienta que o PS tem vindo a apresentar diversas soluções para esta situação, mas as mesmas acabam sempre por ser rejeitadas de forma irresponsável pelo PSD e pelo CDS, com as consequências que são hoje conhecidas. Exemplo disso foi a proposta de criação da Polícia Municipal do Funchal, apresentada já em 2019 e novamente submetida em setembro passado, mas travada na Assembleia Municipal. A implementação da Polícia Municipal seria, no entender de Sérgio Gonçalves, um coadjuvante na dissuasão dos comportamentos desviantes, mas também na fiscalização municipal e na disciplina do trânsito na cidade, mas, lamenta, “só o PSD e o CDS parecem não se aperceber da importância desta medida”.
Por outro lado, o PS apresentou na Assembleia Legislativa da Madeira uma proposta com vista à criação de uma comunidade terapêutica de reinserção social na Região, com uma nova abordagem que permitisse o acompanhamento diferenciado dos toxicodependentes fora do contexto hospitalar, com uma equipa multidisciplinar e técnicos especializados, mas que, além do tratamento específico, assegurasse a sua reintegração social e o acompanhamento familiar. Uma vez mais, criticou o presidente do PS-M, a maioria parlamentar “fez tábua rasa da nossa proposta, recusando-se inclusivamente a discuti-la em plenário”.
Fortemente crítico, Sérgio Gonçalves afirma que, perante estes factos, o PSD e o CDS são os responsáveis pelo atual cenário vivido no Funchal e que, paulatinamente, também já começa a se alastrar a outros pontos da Região.
O líder socialista não deixa ainda de apontar o dedo ao Executivo madeirense por continuar a se recusar a implementar medidas que permitam aliviar os orçamentos familiares perante o aumento do custo de vida. “As privações e dificuldades a que muitas pessoas começam a estar sujeitas acabam também por ser potenciadoras deste tipo de comportamentos”, adverte, vincando a importância de pôr em prática medidas como a aplicação do diferencial fiscal no IVA e no IRS, para devolver rendimentos às famílias e baixar o preço dos serviços e bens de consumo, bem como políticas que promovam o emprego e a igualdade de oportunidades.