Foi hoje aprovada por unanimidade, na Assembleia Municipal do Funchal, uma proposta do Grupo Municipal do PS que visa que o Município preste homenagem ao diplomata Aristides de Sousa Mendes, com a colocação de um busto do ‘Cônsul de Bordéus’ num local público da cidade.
Os deputados municipais socialistas referem que o Funchal, ao longo da sua história, foi e é uma cidade cosmopolita que se associa à tolerância, liberdade e democracia, destacando, por isso, a importância de homenagear o antigo diplomata Aristides Sousa Mendes, que durante a II Guerra Mundial salvou do regime nazi milhares de judeus e outros refugiados.
Estabelecendo um paralelo entre o momento atual – marcado pela guerra na Ucrânia e com reflexos em todo o mundo – e o período da ditadura, o PS Funchal justifica a importância de homenagear quem, com grandes sacrifícios pessoas, se esforçou para salvar vidas. “Num período trágico da nossa história, marcado pela guerra e intolerância, importa recordar e valorizar, com esta devida homenagem, quem com enormes sacrifícios pessoais, numa época de ditadura, desenvolveu importantes esforços para salvar vidas, constituindo um exemplo incontornável de verdadeiro Humanismo”, apontam os socialistas.
O PS Funchal recorda que Aristides de Sousa Mendes foi nomeado por Salazar cônsul em Bordéus, em 1938, nas vésperas do início da Segunda Guerra Mundial. Durante este período, os diplomatas portugueses na Europa receberam indicações através de um documento intitulado “Circular 14”, que ordenava a suspensão de vistos aos refugiados, incluindo de forma clara os judeus, russos e apátridas. A referida circular previa que, para emissão de vistos a judeus, polacos russos, apátridas e outros que eram perseguidos pelo regime nazi, fosse necessário pedir aprovação da polícia política, que, durante o Estado Novo, se encarregou de assegurar a manutenção no poder do ditador, mesmo que isso implicasse censurar, torturar ou matar.
No entanto, em junho de 1940, Aristides de Sousa Mendes, contrariando as ordens diretas de Salazar, tomou a decisão de emitir vistos sem distinção de “raça ou religião”.
A atitude do diplomata Português teve várias consequências pessoais, tendo sido demitido da função de cônsul, despromovido e condenado a um ano de inatividade, tendo ficado com o salário penhorado e sido perseguido pela ditadura.
Factos que fizeram de Aristides de Sousa Mendes um herói, reconhecido posteriormente pelos Presidentes da República Mário Soares e Marcelo Rebelo de Sousa.